
CONSERVAL é um projeto que funciona como uma rede de pesca: exige vários nós que, unidos, desempenham a sua função e tornam possível a missão. Tentaremos desatar o trabalho de cada membro do consórcio da CONSERVAL, para descobrirmos quais os êxitos que obtiveram e até onde é que o quadro do projeto permitiu que chegassem.
- CETAQUA
A CETAQUA é líder e coordenadora da CONSERVAL. Desde abril de 2019 desempenhou satisfatoriamente a função de comando, atendo-se ao que foi pactuado no Programa Interreg, tanto técnica como economicamente. Entre os seus sucessos encontra-se o pedido de uma patente que protege uma nova tecnologia para a obtenção de Ácidos Gordos Voláteis (AGV) a partir dos subprodutos provenientes das indústrias conserveira e láctea ou a demonstração a nível industrial da tecnologia proposta para patente. Estão igualmente encarregados da instalação piloto em que se trataram as águas residuais e os subprodutos. Aí detetaram, pelo menos, 4 correntes (2 de conserveira e 2 de láctea) em que se concluiu a viabilidade técnica para a obtenção de AGV. Como nenhum mar em calma forja bons marinheiros, também se debateram com barreiras tecnológicas, que habilitam a continuar o trabalho na CONSERVAL, tendo em vista a colocação no mercado.
- ANFACO-CECOPESCA
A ANFACO-CECOPESCA é a Associação Empresarial e Centro Tecnológico privado de nível estatal de referência para o setor marinho e alimentar. A sua missão na CONSERVAL centrou-se na obtenção de hidrolisados proteicos e ómega 3 a partir de subprodutos residuais da indústria conserveira. Na sua instalação piloto obtiveram com êxito os hidrolisados de proteínas, tendo alcançado 70% de rendimento de extração e encontrado neles bioatividades benéficas como capacidade antioxidante, hepatoprotetora e anti-hipertensiva. Além disso, extraíram óleo de peixe aplicando a tecnologia de fluidos supercríticos, concentrando os ácidos gordos ómega-3 50% em relação ao óleo original da matéria-prima.


- ANICP
O papel da Associação de Fabricantes de Conservas de Peixes de Portugal (ANICP), juntamente com a ANFACO CECOPESCA, permitiu um melhor conhecimento dos efluentes do setor de processamento de produtos marinhos na região Galiza – Norte de Portugal, a quantificação dos fluxos residuais das instalações conserveiras e a avaliação dos impactos económicos que a gestão das correntes de subprodutos ou águas residuais representa para as empresas.
- USC: BIOGROUP E COSOYPA
Pela sua parte, a Universidade de Santiago de Compostela, através do Biogroup USC, enquadrado no Centro de Investigação de Tecnologias Ambientais (CRETUS), encarregou-se de compreender os mecanismos pelos quais ocorre a conversão de águas residuais de conserveira em produtos como os Ácidos Gordos Voláteis, tendo particularmente em conta a salinidade que está presente neste tipo de efluentes. Conseguiram, nesta linha, quantificar as consequências dos mecanismos de osmorregulação que os micro-organismos usam para se adaptarem à salinidade e a forma como afetam a produção de AGV. Também experimentaram num reator de fermentação as alterações de comportamento dos micro-organismos em resposta a alterações na salinidade do meio, tendo identificado em particular a transição entre salinidades baixas e médias e a forma como isso acarreta consigo uma alteração da população microbiana. Além disso, descobriram em que condições é que uma população microbiana pode preferir ser “ineficiente” usando o substrato disponível, dando lugar à produção de compostos de interesse como o ácido láctico. Estes avanços permitiram que preparassem uma ferramenta preditiva que simula a conversão de efluentes orgânicos salinos em AGV, tornando possível a conceção de processos de fermentação que se dirijam a um AGV específico e conseguindo uma fermentação de água residual de cozedura de atum a AGV com um alto rendimento (60-70%).
Também colaborou no projeto outro grupo de investigação da USC, novamente enquadrado no CRETUS: o grupo de Comportamento Social e Psicometria Aplicada (COSOYPA). A contribuição do grupo pode ser caracterizada pelas duas abordagens metodológicas utilizadas para se conhecer a perceção dos potenciais consumidores da tecnologia e dos produtos identificados. Primeiramente, de caráter mais qualitativo, foram realizados grupos focais com perfis vinculados ao âmbito da CONSERVAL (industrial e de consumo) e achou-se um bom conhecimento geral da economia circular e uma preocupação com a problemática ambiental, embora também certas barreiras relativamente à tecnologia a implementar e eventual custo económico. Notou-se um acordo em todos os grupos sobre a boa aceitação que se espera por parte dos consumidores e, embora em menor grau, fez-se referência ao valor acrescentado dos produtos e às vantagens económicas e ecológicas. Como estratégia de comercialização mencionou-se a rentabilidade (relação custo-benefício), seguida da promoção dos produtos com base nas suas garantias e origem sustentável. De igual modo, os grupos mencionaram a necessidade de informação técnica e a conveniência de se recorrer a autoridades de confiança por parte da população que avalizem estes produtos derivados da indústria conserveira.
Após esta análise, foi efetuado um estudo quantitativo em maior escala, mediante um questionário ao qual responderam 1226 participantes da população portuguesa, galega e espanhola. Os resultados demonstraram um alto nível de identificação com a problemática ambiental, uma boa atitude geral em relação aos produtos avaliados, com especial confiança na ciência. São precisamente as boas sensações de tranquilidade, e até mesmo orgulho e satisfação, que contribuem em grande medida para a explicação da intenção de compra. Mediante algoritmos implementados em R e em Mplus, estudou-se nas diferentes regiões o peso relativo das variáveis num modelo de intenção de compra, que se situa na parte alta da escala para mais de metade dos pesquisados.


- FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO (FEUP)
Manifestando a cooperação internacional no espaço POCTEP que a CONSERVAL representa, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) trabalhou, tanto na produção de Ácidos Gordos Voláteis a partir de águas residuais da indústria conserveira, como na obtenção de óleos e proteínas a partir de subprodutos e águas residuais.
Sobre os primeiros, centraram-se no processo de refinação, pois em misturas têm um valor de mercado inferior à sua forma pura. Para tal, trabalharam a concentração de AGV’s através de um processo de permeação, com uma membrana de osmose inversa. Desta forma, caracterizou-se a membrana em termos de permeabilidade e retenção, e também se estudaram os efeitos da concentração da alimentação, o pH da solução e a pressão aplicada para se determinarem as condições ótimas de funcionamento. Chegou-se à conclusão de que as melhores condições de funcionamento seriam que a solução de alimentação tivesse um pH elevado (acima do pKa dos AGV) e que se aplicasse uma pressão elevada ao sistema de filtragem, para se conseguir uma alta retenção de ácidos e altos fluxos de permeabilidade. Também trabalharam a separação ou purificação desses ácidos já concentrados. A adsorção foi o método escolhido, com o adsorvente Amberlite XAD-4, dado que apresentava diferentes afinidades para cada um dos ácidos. Obteve-se o equilíbrio e a cinética da adsorção para este adsorvente, juntamente com o ajuste de modelos matemáticos que representaram corretamente os resultados experimentais, permitindo a previsão. Estes resultados foram utilizados na conceção de um processo contínuo, que consistiu numa unidade de leito móvel simulado (SMB).
Quanto às proteínas hidrolisadas e aos óleos ómega-3, foi efetuado um fracionamento do peso molecular das amostras de várias origens enviadas à FEUP pela ANFACO, que resultou num relatório com a descrição dos resultados que ajudam nas conclusões da ANFACO.
- FEUGA
No quadro da ação 4.2, “Avaliação de exploração de Resultados e Tecnologias”, a Fundação Empresa-Universidade Galega (FEUGA) conseguiu a correta análise e valorização do potencial das tecnologias desenvolvidas no seio do projeto CONSERVAL, com uma visão completa do ecossistema do setor de valorização de subprodutos provenientes da indústria alimentar e uma ampla identificação dos atores fundamentais, a sua localização geográfica e diversos modos de operação. Do mesmo modo, foram efetuadas atuações de promoção das tecnologias com potencial comercial ou colaborativo em forma de reuniões com setores de interesse ou mediante a participação do projeto em diversos eventos, maximizando o alcance e impacto dos resultados obtidos.
Além disso, a FEUGA encarregou-se da transferência e comunicação do projeto. Dado que uma das suas missões consistia em promover a consciencialização no setor conserveiro para a importância da aplicação de tecnologias inovadoras para o melhoramento da competitividade, a consciencialização da sociedade para o conceito da economia circular e a potenciação do networking entre os beneficiários e utilizadores finais do projeto. Graças ao trabalho da sua equipa, mais de 25 meios contribuíram para a difusão do projeto e dos seus resultados com 40 publicações, foram atingidas mais de 2.745 visualizações em 42 vídeos, participou-se em 7 eventos externos que deram visibilidade e difusão ao projeto, houve um tráfego na web de 35.000 visitas e 100.000 cliques e contou-se com uma comunidade ativa nas redes sociais de mais de 530 seguidores. Porque a ideia não era só navegar em solitário, mas servir de estela que guiasse outras embarcações.
Se lhe faltou mais, na seguinte lista de vídeos pode ver quem são os protagonistas do projecto CONSERVAL e como fazem o seu trabalho: